DFC: Como Elaborar uma Demonstração de Fluxo de Caixa Profissional

Você sabe explicar, no detalhe, a variação de caixa da sua empresa no mês passado?

Algum investidor ou sócio já te pediu o Fluxo de Caixa da sua empresa e você não tinha?


Pois é…essas perguntas (e muitas outras) são respondidas por uma DFC bem feita.


A DFC, demonstração de fluxo de caixa, é um relatório em que são listadas as origens de todos os recursos que uma empresa obteve em um certo período e como eles foram aplicados. Nele deve haver todas as entradas e saídas de dinheiro do caixa da empresa em um certo período, além de apresentar quais foram os resultados desse fluxo e a variação no caixa da empresa.

A demonstração de fluxo de caixa (DFC) também permite que os analistas possam detectar possíveis fraudes contábeis em uma empresa. Além disso, ela também pode ser útil para demonstrar a saúde financeira da instituição e possíveis erros no orçamento.

Portanto, o objetivo da DFC é analisar a capacidade que uma empresa possui para a geração de caixa ao longo de um dado período, mostrando, dessa forma, como está a saúde financeira de uma empresa, bem como detectar possíveis erros contábeis ou fraudes no caixa.

Fluxo de Caixa



1. Métodos de elaboração de uma DFC

Existem dois métodos diferentes para elaborar uma DFC, são eles:

  1. Método indireto: Esse método é mais utilizado quando terceiros estão elaborando um fluxo de caixa de uma empresa, visto que o método utiliza dois relatórios contábeis divulgados: DRE e Balaço Patrimonial. Partindo do lucro líquido, conta que vem da DRE, o analista deve realizar ajustes relevantes, além de considerar as variações das contas patrimoniais da companhia.

  2. Método direto: É o método mais utilizado pelos gestores financeiros da empresa para gestão diária do fluxo de caixa. Aqui, utiliza-se o espelho dos extratos bancários da companhia, listando-se todas as entradas e as saídas, classificadas de acordo com a natureza dos pagamentos ou recebimentos.



2. Estrutura da DFC

De acordo com as boas práticas de governança, a apresentação da demonstração de fluxo de caixa tem como base para a sua estrutura três atividades principais. São elas:

  1. Operacional: abrange todo o fluxo relacionado as atividades operacionais da companhia.

  2. Investimento: refere-se ao fluxo do dinheiro na aquisição ou desinvestimento de ativos. Um exemplo disso é a compra de bens considerados como "ativo imobilizado", como um carro;

  3. Financiamento: são contas que estão ligadas à captação de recursos, sejam eles oriundos de sócios ou de terceiros. Empréstimos bancários ou aportes de investidores entram nessa conta.

Além das contas listadas acima, também é apresentado o resultado final, que consiste em um somatório dos dos resultados de cada um dos grupos citados anteriormente. Por fim, apresenta-se a posição de caixa final da companhia, de acordo com a posição inicial de caixa e a variação apurada no fluxo de caixa.



2.1 Fluxo de caixa das atividades operacionais

O fluxo de caixa das atividades operacionais representa a movimentação de dinheiro gerada pelas operações principais do negócio, como vendas de produtos ou serviços, e os custos associados a essas atividades, como pagamento a fornecedores e despesas operacionais. Esse fluxo reflete a capacidade da empresa de gerar recursos suficientes para manter suas operações e financiar seu crescimento sem depender de fontes externas. O fluxo de caixa das atividades operacionais é crucial para avaliar a saúde financeira de uma empresa. Ele indica se a empresa está gerando caixa suficiente para manter suas operações e investir no crescimento.

Startups e pequenas empresas podem enfrentar períodos de fluxo de caixa operacional negativo, evidenciando que a empresa não é capaz de se sustentar apenas com suas atividades operacionais, necessitando de recursos externos, seja via financiamento, o meio mais comum, ou de investimento, realizando um desinvestimento de algum ativo imobilizado. Isso ocorre pois no início das operações, essas empresas podem apresentar receita baixa, mas em crescimento, e custos operacionais elevados. A situação descrita é representada por uma métrica muito conhecida no mundo das startups,  o “cash burn”, que mostra quanto de dinheiro a empresa “queimou” para sustentar sua atividade operacional deficitária.



2.2 Fluxo de caixa das atividades de investimento

Aqui é analisado o fluxo de investimentos ou desinvestimentos da empresa. Sendo, por exemplo, a aquisição ou venda de imóveis, automóveis ou qualquer outro ativo que tenha o objetivo de manter o negócio em funcionamento. Além disso, é incluído nessa parte, também, o controle societário de outras empresas.

Às vezes, as empresas vendem participações em outros negócios ou outros ativos não circulantes. Neste caso, os valores recebidos na venda desses bens e direitos entrará como fluxo positivo nas atividades de investimento. No entanto, o mais comum são fluxos negativos nessa conta, demonstrando que a empresa está investindo em novos projetos, possibilitando um aumento das atividades no futuro.

Não confunda: aportes de capital de investidores não são registrados aqui, mas sim no fluxo de caixa de financiamento!



2.3 Fluxo de caixa das atividades de financiamento

Esta seção representa principalmente as entradas com empréstimos e financiamentos, além das saídas com o pagamento destas dívidas. Dessa forma, quitar um empréstimo bancário significa uma saída do fluxo de caixa de financiamento, portanto negativo. No entanto, ao realizar o pagamento de juros sobre esse empréstimo, o valor deve ser registrado como saída no fluxo de caixa de atividades operacionais, sendo registrado como atividades de financiamento apenas o valor do principal da dívida. Já quando uma empresa faz um empréstimo, esse valor aparece como uma entrada no fluxo de caixa de atividades de financiamento, portanto positivo.

As atividades de financiamento também compreendem os fluxos referentes ao capital próprio. Por exemplo, sempre que determinada empresa paga dividendos ou Juros Sobre Capital Próprio, uma saída de caixa é registrada nesta seção.



2.4 Resultado (variação de caixa)

Depois de somados todos os fluxos de caixa decorrentes das atividades operacionais, de investimento e financiamento, chegamos à variação total de caixa. Dessa forma, obtém-se a resultado entre o saldo inicial e final de caixa:

  • Saldo inicial de caixa: R$ 300 milhões;

  • Caixa das atividades operacionais: R$ 30 milhões;

  • Caixa dos investimentos: – R$ 10 milhões;

  • Caixa das atividades de financiamento: – R$ 8 milhões;

  • Saldo final de caixa: R$ 312 milhões (300+30-10-8).

 

3. A importância da DFC para investidores

Antes de investir em uma empresa, seja ela qual for, é importante conhecê-la um pouco mais a fundo, principalmente sobre a sua saúde financeira. Saber o que é DFC e como esse relatório funciona diminui o risco de investir o seu dinheiro em uma companhia que pode gerar prejuízos ou mesmo que está perto de quebrar.

Lembre-se: manter o fluxo de caixa de atividades operacionais positivo e crescente deve ser o principal objetivo de qualquer empresa, uma vez que é isso que permitirá que ela cresça e que traga cada vez mais lucro aos seus investidores e demais interessados.



3.1 Como analisar a DFC

Se comparada à DRE, a DFC é mais simples de ser analisada. Isso porque ela traz apenas as movimentações financeiras que já ocorreram, sem considerar eventuais previsões. Dessa forma, a análise do resultado final da DFC pode ser feita com base na seguinte equação:

Resultado do Fluxo de Caixa = Recebimentos - Pagamentos

Para um efeito mais prático vamos analisar uma DFC de uma empresa demonstração diretamente do Cockpit. Abaixo temos o fluxo de caixa da empresa:

Iniciando nossa analise com as atividades operacionais observamos um resultado negativo (cash burn), de Fevereiro/2024 até Abril/2024. Por outro lado, observamos em Janeiro/2024 um resultado consideravelmente positivo. Podemos relacionar a alta receita desse mês a algum fator não recorrente. Além disso, observamos uma tendência de queda nas entradas operacionais, evidenciando um alerta para a operação da empresa, sendo necessário entender o real motivo dessa tendência. A respeito das saídas, estes apresentam uma tendência mais estável, porém apresentam valores superiores as entradas operacionais em quase todos os meses.

Em um segundo momento, analisamos o fluxo de caixa de financiamento, que em Abril/2024 apresentou um saldo positivo significativo, podendo ser utilizado para compensar o prejuízo das atividades operacionais da empresa ou para algum futuro projeto que demande investimento. Além disso, nos últimos meses observamos valores de entradas e saídas de financiamento, no entanto, o resultado tende a zero.

Ao analisarmos o fluxo de caixa de investimento, vemos apenas um valor em Janeiro/2024, mostrando um investimento da empresa no valor de R$ 97.200. No entanto, nos outros meses não observamos fluxos de investimentos, evidenciando que a empresa não realizou aquisição ou venda de ativos imobilizados ou intangíveis por exemplo.

Após a analise dos três grupos, analisamos o resultado final do período. Podemos observar que no mês de Abril/2024, a geração de caixa foi positiva devido ao fluxo de caixa de financiamento, possivelmente decorrente de um empréstimo. Em Janeiro/2024, a geração de caixa também foi positiva, nesse caso sendo impulsionada pelo fluxo de caixa das atividades operacionais, podendo ter sido influenciado por algum recebimento de cliente não recorrente. Os meses de Fevereiro/2024 e Março/2024 apresentaram uma geração negativa devido a atividades operacionais deficitárias da empresa.

3.2 Vantagens e desvantagens da DFC.

As empresas que utilizam a demonstração de fluxo de caixa (DFC) colhem diversas vantagens significativas. Primeiramente, essa ferramenta funciona como um espelho da saúde financeira do negócio, auxiliando na tomada de decisões. Ao apresentar o fluxo de caixa, a DFC permite identificar se, em um determinado período, o resultado foi positivo ou negativo, possibilitando que os gestores adotem medidas rápidas para corrigir desequilíbrios financeiros.

Além disso, a DFC é eficaz na detecção de possíveis fraudes contábeis, um aspecto crucial, uma vez que tais atos podem ser extremamente prejudiciais para a empresa e seus investidores. Outro benefício é a capacidade de avaliar a geração de caixa livre para os acionistas, ou seja, o montante que permanece após os investimentos em capital de giro e na manutenção do capital fixo. Esses dados históricos são valiosos para fundamentar estimativas em modelos de valuation de fluxo de caixa descontado.

É importante ressaltar que a DFC deve ser analisada em conjunto com a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), já que os regimes de competência e de caixa devem convergir a longo prazo, indicando se a empresa está realmente criando valor para seus acionistas ou, ao contrário, comprometendo o capital dos sócios ao longo dos anos.

Como desvantagem, vale mencionar que a elaboração da DFC demanda um tempo considerável. No entanto, com o suporte da equipe da General Finance, essa preocupação é minimizada, pois o Cockpit gera a DFC com base nos dados financeiros das empresas de forma eficiente e precisa.

 

4. DFC x DRE

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) são ferramentas financeiras fundamentais que oferecem insights distintos sobre a saúde de uma empresa, especialmente quando se considera os regimes de competência e de caixa.

A DRE opera sob o regime de competência, reconhecendo receitas e despesas no momento em que ocorrem, independentemente do recebimento ou pagamento. Isso significa que ela fornece uma visão clara da lucratividade da empresa, mesmo que o caixa ainda não tenha sido movimentado. Por exemplo, uma venda registrada na DRE pode não refletir imediatamente um aumento no caixa, pois o pagamento pode ser recebido posteriormente.

Em contrapartida, a DFC adota o regime de caixa, focando nas entradas e saídas efetivas de dinheiro durante um período específico. Essa abordagem é crucial para entender a liquidez da empresa, pois mostra se há caixa suficiente para cumprir obrigações financeiras imediatas. Assim, enquanto a DRE informa se a empresa é lucrativa em um sentido contábil, a DFC revela se ela realmente possui recursos para operar.

Ambas as demonstrações são complementares: a DRE fornece uma visão do desempenho financeiro ao longo do tempo, enquanto a DFC traz à tona a realidade da gestão de caixa. Portanto, analisar as duas em conjunto é essencial para obter uma compreensão completa da saúde financeira de uma empresa.

Próximo
Próximo

Inteligência Artificial nas Startups: Inovação e Vantagens Competitivas